quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Ainda o assédio religioso

Disponível em http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk3007200922.htm. Acesso em 19/08/2009.

30 de julho de 2009



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JUCA KFOURI

Deixem Jesus em paz


Está ficando a cada dia mais insuportável o proselitismo religioso que invadiu o futebol brasileiro


MEU PAI , na primeira vez em que me ouviu dizer que eu era ateu, me disse para mudar o discurso e dizer que eu era agnóstico: "Você não tem cultura para se dizer ateu", sentenciou.
Confesso que fiquei meio sem entender. Até que, nem faz muito tempo, pude ler "Em que Creem os que Não Creem", uma troca de cartas entre Umberto Eco e o cardeal Martini, de Milão, livro editado no Brasil pela editora Record.
De fato, o velho tinha razão, motivo pelo qual, ele mesmo, incomparavelmente mais culto, se dissesse agnóstico, embora fosse ateu.
Pois o embate entre Eco e Martini, principalmente pelos argumentos do brilhante cardeal milanês, não é coisa para qualquer um, tamanha a profundidade filosófica e teológica do religioso. Dele entendi, se tanto, uns 10%. E olhe lá.
Eco, não menos brilhante, é mais fácil de entender em seu ateísmo.
Até então, me bastava com o pensador marxista, também italiano, Antonio Gramsci, que evoluiu da clássica visão que tratava a religião como ópio do povo para vê-la inclusive com características revolucionárias, razão pela qual pregava a tolerância, a compreensão, principalmente com o catolicismo.
E negar o papel de resistência e de vanguarda de setores religiosos durante a ditadura brasileira equivaleria a um crime de falso testemunho, o que me levou, à época, a andar próximo da Igreja, sem deixar de fazer pequenas provocações, com todo respeito.
Respeito que preservo, apesar de, e com o perdão por tamanha digressão, me pareça pecado usar o nome em vão de quem nada tem a ver com futebol, coisa que, se bem me lembro de minhas aulas de catecismo, está no segundo mandamento das leis de Deus.
E como o santo nome anda sendo usado em vão por jogadores da seleção brasileira, de Kaká ao capitão Lúcio, passando por pretendentes a ela, como o goleiro Fábio, do Cruzeiro, e chegando aos apenas chatos, como Roberto Brum.
Ninguém, rigorosamente ninguém, mesmo que seja evangélico, protestante, católico, muçulmano, judeu, budista ou o que for, deveria fazer merchan religioso em jogos de futebol nem usar camisetas de propaganda demagógicas e até em inglês, além de repetir ameaças sobre o fogo eterno e baboseiras semelhantes, como as da enlouquecida pastora casada com Kaká, uma mocinha fanática, fundamentalista ou esperta demais para tentar nos convencer que foi Deus quem pôs dinheiro no Real Madrid para contratar seu jovem marido em plena crise mundial. Ora, há limites para tudo.
É um tal de jogador comemorar gol olhando e apontando para o céu como se tivesse alguém lá em cima responsável pela façanha, um despropósito, por exemplo, com os goleiros evangélicos, que deveriam olhar também para o alto e fazer um gesto obsceno a cada gol que levassem de seus irmãos...
Ora bolas!
Que cada um faça o que bem entender de suas crenças nos locais apropriados para tal, mas não queiram impingi-las nossas goelas abaixo, porque fazê-lo é uma invasão inadmissível e irritante.
Não mesmo é à toa que Deus prefere os ateus...

blogdojuca@uol.com.br

terça-feira, 4 de agosto de 2009

Luciana

Há uns quatro meses faleceu uma amiga e eu escrevi em algum lugar que quando morre um amigo ou uma amiga vai junto um nosso pedaço. Um pedaço de vida. Uma experiência que todos passamos em face da sucessão de vidas que vimos findar.


Este pedaço de vida que vai junto com aquele morreu não é algo que se esvai, mas uma semente que permitirá a sobrevivência de quem desapareceu fisicamente. A lembrança que fica entre nós é o que aquela representou a todos nós enquanto viveu.


É será assim que Luciana permanecerá entre nós.


Eu nem me lembro há quanto tempo Aluizio e Luciana casaram. Lembro-me ser bem criança. Lembro-me da parentela subindo a serra, mas nem todos se aventurando em face das dificuldades de vencer a distância entre Morretes e Curitiba. E as “tias” começaram a perguntar quem era aquela tedesca com jeitão italianado, falando e rindo alto.


Sempre brinquei que Aluizio e Luciana saíam para a balada eu me transforma em baby-sitter da Luiza e depois da Luiza e do Neto, os seus dois filhos mais velhos. Depois veio uma seqüência para disputar com tio Jango. Não alcançou, mas chegou perto.


Falar de Luciana é falar de Aluízio e vice versa. Dois primos mais que primos, dois irmãos mais velhos. Quanta coisa teria que contar destes dois e são estas lembranças que farão com que Luciana permaneça presente entre nós que ficamos por aqui.


Luciana tinha muita admiração pela minha mãe. Em 1996 uma escola de Morretes recebeu o nome da minha mãe e as minhas irmãs pediram que eu escrevesse um texto e no dia da cerimônia eu teria que ler o texto. Achei que não conseguiria. Pedi para ela que lesse o texto. Ou melhor, que chorasse por mim. Ela chorou por mim.


Seria muito bom se pudéssemos retroceder no tempo para reviver os momentos bons que vivemos. Aluízio e Luciana são mais que primos, são os meus irmãos mais velhos. Esta presença de Luciana impede-me que me despeça dela. E é isto, tenho a certeza, que marcará a presença de Luciana em Morretes.


Prima, você está por aqui...



(não revisei o texto para não corrigir sentimentos)